Ao enveredar nas trilhas do personagem, Frederico revela as circunstâncias que moviam Benjamin Abrahão e o mundo que o circundava.
As primeiras frases do escritor e historiador Frederico Pernambucano de Mello, na introdução do novo título da Cepe Editora, traduzem a força do personagem central do livro: “Na crônica da região mais velha do Brasil, poucas vidas riscaram de modo tão incisivo os traços duros de uma encruzilhada quanto a do imigrante Benjamin Abrahão”. Fugindo do alistamento militar, o sírio Benjamin Abrahão desembarcou no Recife em 1915, aos 15 anos de idade, dando início a uma das trajetórias pessoais mais emblemáticas do Nordeste no início do século 20. Ele se tornaria o secretário particular do maior líder religioso da região, padre Cícero Romão Baptista, e autor das imagens que eternizaram Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu bando de cangaceiros. A obra Benjamin Abrahão: entre Padre Cícero e Lampião ganha lançamento no dia 20 de setembro, a partir das 18h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). O evento integra a programação do Cariri Cangaço Recife 2025.
A edição chega às livrarias mais de uma década depois da primeira publicação da obra. Em 384 páginas, Frederico Pernambucano de Mello, considerado o maior especialista na história do cangaço, revela os caminhos de Benjamin Abrahão (1890-1938) a partir de uma pesquisa cuidadosa realizada ao longo de 40 anos. O livro reúne quase uma centena de fotografias e resgata a biografia pouco conhecida desse protagonista da história a partir de livros, revistas, jornais, documentos e entrevistas, como as realizadas pelo autor com os cangaceiros Manoel Dantas Loiola (Candeeiro) e Sérgia Ribeiro da Silva (Dadá). Traz ainda percepções do próprio Benjamin Abrahão registradas em sua caderneta de campo – material recolhido pela polícia quando foi morto, aos 37 anos, com 42 punhaladas, em 7 de maio de 1938, na cidade de Águas Belas (hoje Itaíba).
Ao enveredar nas trilhas do personagem, Frederico revela as circunstâncias que moviam Benjamin Abrahão e o mundo que o circundava. De início, ao fazer o recorte da chegada do imigrante à capital pernambucana, o autor mostra a Síria sob a violência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); o Recife como um centro econômico regional; os familiares que acolheram o viajante, de formação cristã; e o quanto uma viagem à cidade de Rio Branco, hoje Arcoverde, mudou os rumos de Benjamin, em 1916. Na viagem, após ver centenas de romeiros a caminho do Ceará, ele voltou ao Recife determinado a se mudar para Juazeiro do Norte.
Capítulo após capítulo, o autor desenrola o novelo histórico de Benjamin, que começou a ganhar a vida como comerciante e, a partir de um convite, tornou-se secretário particular de Padre Cícero. Essa relação direta com o sacerdote o levou ao contato com personagens e fatos relevantes da época, como a evolução política do Juazeiro do Norte, a passagem da Coluna Prestes pelo semiárido, os movimentos de Lampião e a ditadura do Estado Novo.
Com a morte de Padre Cícero, em 1934, Benjamin Abrahão concentra esforços e coloca em prática o projeto de fotografar e filmar Lampião e seu bando em deslocamentos pelo Nordeste. Essa façanha gerou fama, uma relação com o próprio Lampião (que em bilhete carimbado lhe confere a condição de prestador de serviço, atestando ter sido o sírio a primeira pessoa a filmá-lo), sendo ainda o responsável por deixar para a posteridade a mais completa documentação em imagem sobre o cangaço.
Para o editor da Cepe, Diogo Guedes, Benjamin Abrahão: entre Padre Cícero e Lampião é mais uma obra de fôlego narrativo e documental do autor. “Frederico Pernambucano de Mello reconstrói a incrível trajetória de Benjamin Abrahão, comerciante incansável e talentoso, que parece ter sempre esbarrado com os grandes eventos históricos do Nordeste nos anos 1920 e 1930 — por acaso ou pelo seu aguçado tino. Esse é um livro essencial para se entender o Nordeste e o cangaço do período”, destaca.
Sobre o autor
Recifense, Frederico Pernambucano de Mello possui formação em história e direito. É membro dos Institutos Históricos de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Desde 1988, ocupa a cadeira 36 da Academia Pernambucana de Letras (APL). Publicou mais de 10 livros sobre a temática do cangaço. Além de Benjamin Abrahão: entre Padre Cícero e Lampião, publicou pela Cepe Editora os livros Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil e Estrelas de couro: a estética do cangaço.