Citros Day reúne especialistas e aponta caminhos para a citricultura no Vale do São Francisco

Os debates mostraram como a ciência, os viveiros, a consultoria e o setor produtivo podem atuar de forma integrada para fortalecer a atividade no Vale.

O Citros Day, realizado no dia 10 de setembro, no auditório do Senai, em Petrolina (PE), marcou um novo ciclo de debates sobre a citricultura no Vale do São Francisco. Promovido pela Embrapa e pelo Sebrae Pernambuco, o evento reuniu pesquisadores, viveiristas, consultores e produtores para discutir inovação, sustentabilidade e o futuro da cadeia produtiva, oferecendo um panorama sobre os rumos da citricultura na região.

A programação foi dividida entre manhã e tarde, com palestras sobre avanços da pesquisa, mudanças climáticas, porta-enxertos e cultivares copas, uso de mudas certificadas, manejo de pragas e doenças, poda e exigências de mercado. Os debates mostraram como a ciência, os viveiros, a consultoria e o setor produtivo podem atuar de forma integrada para fortalecer a atividade no Vale.

Idealizadora do evento, a pesquisadora Débora Bastos, da Embrapa Semiárido, destacou que a citricultura vem ganhando espaço como alternativa estratégica para a diversificação da fruticultura irrigada. Hoje, cerca de mil hectares já estão cultivados no Vale do São Francisco, sendo 80% com a lima ácida ‘Tahiti, espécie que se adaptou bem às condições locais e garante produção ao longo de todo o ano com o uso da irrigação.

“É uma cultura que assegura renda tanto para grandes empresas quanto para agricultores familiares, que conseguem viabilizar o negócio em áreas de meio a um hectare”, ressaltou Bastos.

Segundo a pesquisadora, o Semiárido oferece condições naturais que favorecem a produção de citros com diferencial de qualidade. “As altas temperaturas, a baixa umidade e a luminosidade intensa reduzem a ocorrência de pragas e doenças, permitindo uma citricultura mais “limpa”, com menos defensivos”, explicou.

Esse cenário coloca o Vale em vantagem frente a outras regiões do país, que enfrentam sérios problemas fitossanitários. Além disso, a infraestrutura logística já consolidada pela manga e pela uva beneficia diretamente a cadeia dos citros, facilitando a inserção no mercado interno e externo.

No campo da pesquisa, Débora destacou que a Embrapa avalia atualmente 22 porta-enxertos de citros para a limeira ácida ‘Tahiti’, em busca de materiais mais tolerantes à salinidade e à seca. “Em poucos anos, teremos recomendações sólidas para dar ainda mais segurança ao produtor”, afirmou.

O evento também discutiu os efeitos das mudanças climáticas na fruticultura. A pesquisadora Francislene Angelotti, também da Embrapa Semiárido, alertou que a elevação das temperaturas e o déficit hídrico exigem novas estratégias de manejo e pesquisa, inclusive para os citros.

“Precisamos entender como esses fatores vão impactar os pomares e, ao mesmo tempo, investigar o potencial da cultura para sequestrar carbono. Isso pode transformar os citros em aliados tanto da adaptação quanto da mitigação das mudanças climáticas”, destacou.

Do viveiro ao mercado

A visão do setor de viveiristas foi trazida pela empresária Jéssica Nascimento Araújo, do Viveiro Sergipe Citrus. Ela destacou a importância de investir em mudas certificadas e produzidas em ambiente protegido, livres de pragas como o greening e o cancro cítrico. “As mudas são a base de uma citricultura mais competitiva e segura. Já temos combinações genéticas consolidadas para produtividade e longevidade de pomares, e é fundamental que os produtores priorizem esse caminho para garantir sustentabilidade no setor”, afirmou.

Entre os consultores presentes, o engenheiro agrônomo Elisaldo Júnior avaliou que os citros podem se consolidar como “terceira via” para equilibrar o modelo produtivo da região, hoje fortemente marcado pela uva e pela manga. “Vejo os citros como um tripé de equilíbrio e sustentabilidade. Precisamos diversificar para garantir a sobrevivência do Vale do São Francisco no longo prazo. Temos clima favorável, conhecimento técnico e novas tecnologias que dão segurança para expandir”, destacou.

Já o consultor Camilo Medina, engenheiro agrônomo, fisiologista de plantas e especialista em citros, ressaltou que o sucesso da citricultura no Vale depende de planejamento detalhado antes da implantação dos pomares.

“A expansão da cultura para novas regiões, como o Nordeste, é uma oportunidade diante das áreas livres do greening. Mas é preciso conhecer as exigências climáticas, acessar zoneamentos específicos e escolher bem as áreas. Esses são passos fundamentais para garantir produtividade e sustentabilidade. A citricultura tem grande potencial no Vale, desde que aliada a planejamento, pesquisa e adoção de tecnologias adequadas”, destacou.

Futuro promissor

O encerramento contou com uma mesa-redonda que projetou o futuro da atividade no Semiárido. Para os participantes, os citros despontam como alternativa estratégica de diversificação, capaz de gerar novas oportunidades de mercado, fortalecer a economia regional e beneficiar tanto grandes produtores quanto agricultores familiares.

Os pesquisadores Walter Soares Filho e Orlando Sampaio Passos, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas-BA), reforçaram esse potencial. “O Semiárido é um verdadeiro santuário. Temos sol, água, tecnologia e baixa incidência de pragas. Se bem trabalhada, a citricultura pode transformar o Vale em uma ‘Califórnia brasileira”, afirmou Walter.

Orlando Passos concluiu destacando o papel estratégico da região. “O Semiárido reúne condições únicas que o colocam como nova fronteira da citricultura. Se houver planejamento, pesquisa e integração entre os elos da cadeia, essa pode se tornar a próxima grande vocação agrícola do Vale do São Francisco”.

Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 32 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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