Os resultados mostraram que a maioria das crianças de 1 a 5 anos não cumpre todas as três recomendações da OMS.
Organização Mundial da Saúde (OMS) faz uma série de recomendações sobre tempo mínimo de sono, de prática de atividade física e tempo máximo de uso de telas por faixa etária para crianças em seus anos iniciais de vida. Com base nas recomendações, uma pesquisa coordenada por uma professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) investigou o desenvolvimento de crianças em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Petrolina (PE), em 2022 e 2023. Os resultados mostraram que a maioria das crianças de 1 a 5 anos não cumpre todas as três recomendações da OMS.
A pesquisa "Relações Transversais e Longitudinais entre Comportamentos de Movimento em 24 Horas e Desfechos em Saúde de Pré-Escolares da Cidade de Petrolina-PE - Projeto Movement’s Cool" foi coordenada pela professora Natália Goulart, do Colegiado de Educação Física (Cefis) da Univasf. O trabalho fez parte da pesquisa de doutorado da professora Natália Goulart e da professora Jessica Mota, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PAPGEF), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob a orientação dos professores Clarice Maria de Lucena Martins, da UFPB, e Rafael Tassitano, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
O estudo buscou compreender melhor os comportamentos de movimento e como a prática de atividades físicas, o sono e o tempo em frente às telas impactam o desenvolvimento motor, cognitivo e comportamental das crianças. A pesquisa foi dividida em duas fases. A primeira foi realizada em 2022 e envolveu a coleta de dados em 231 crianças de 3 a 5 anos, que fez parte da tese da professora Natália Goulart. A segunda etapa foi realizada pela professora Jessica Mota, que analisou os comportamentos de movimento em 144 crianças com idades de 1 a 2 anos.
A pesquisa constatou que apenas 3,1% das crianças de 3 a 5 anos e 21% das crianças de 1 e 2 anos cumprem as três recomendações da OMS acerca do tempo mínimo de sono e de prática de atividade física e do uso restrito de tela. O estudo ainda evidencia que os meninos se envolvem mais do que as meninas em atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa, o que, segundo as pesquisadoras, pode estar associado aos estímulos socioculturais disponibilizados a eles.
A professora Natália Goulart destaca que alguns dos resultados obtidos já eram esperados. “Diversos estudos conduzidos em diferentes países, com variadas realidades culturais e socioeconômicas, têm evidenciado um baixo percentual de adesão simultânea às recomendações de comportamentos de movimento na primeira infância”, observa.
Alguns dados foram obtidos com o uso de acelerômetros, pequenos dispositivos colocados na cintura das crianças que medem os níveis de atividade física ao longo do dia. Natália explica que também foram aplicados testes motores nas próprias creches, por meio da Escala Motora Peabody e do teste de desenvolvimento motor grosso, ferramentas de avaliação padrão que medem as habilidades motoras de crianças. A pesquisa contou ainda com a participação dos pais ou responsáveis, que contribuíram com informações sociodemográficas, de tempo de sono e exposição a telas.
Para além dos avanços científicos, o estudo ressalta o papel das instituições de ensino e dos educadores no desenvolvimento integral da primeira infância, através de planejamento de aulas ao ar livre, atividades que exercitam a coordenação motora e a redução, ou o não uso, de telas, contribuindo para mudanças na saúde e no bem-estar das crianças. A professora Natália frisa que o Projeto Movement’s Cool traz um alerta para que os pais reflitam sobre os ambientes e rotinas que oferecem aos filhos, repensando o tempo de tela, promovendo atividades motoras e dando oportunidades de movimento no ambiente familiar, melhorando também a qualidade de interação entre pais e filhos.
A expectativa é que o projeto Movement’s Cool continue a partir do próximo mês de outubro, com a realização de uma nova etapa, a fim de reavaliar as crianças que participaram do estudo quando tinham entre 1 e 2 anos. O projeto contará com apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Univasf e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), possibilitando a participação de duas bolsistas na pesquisa. “Os dados previamente coletados pela professora Jessica oferecerão uma base para o aprofundamento dessa investigação longitudinal, permitindo analisar possíveis mudanças na adesão aos comportamentos de movimento, para verificar a evolução dos comportamentos das crianças ao longo do tempo”, diz a professora do Cefis.