O projeto visa ampliar a biodiversidade no Campus Ciências Agrárias.
Transformar conhecimento em prática é um dos pilares do projeto “De Volta às Raízes”, desenvolvido no Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). A iniciativa, conduzida pelo professor Vini Silva Ferreira, envolve estudantes em ações de responsabilidade socioambiental no Campus Ciências Agrárias (CCA), em Petrolina (PE), inspiradas em práticas ancestrais. O projeto visa aproveitar os resíduos orgânicos produzidos no campus para a geração de húmus, por meio da compostagem. Além disso, visa recuperar áreas degradadas por meio do plantio de espécies nativas e da construção de abrigos artificiais para insetos, como abelhas, aranhas e besouros, fundamentais para a polinização e a decomposição da matéria orgânica.
De acordo com Ferreira, a proposta nasceu da observação da rotina universitária. “Percebi que, com o restaurante universitário produzindo grande volume de resíduos, poderíamos transformar isso em um projeto de impacto para toda a comunidade acadêmica. Queremos avaliar a quantidade de resíduo gerado no campus, transformá-lo em adubo e conscientizar sobre a importância da redução e do manejo adequado dos resíduos”, conta.
Além de promover a regeneração ambiental, o De Volta às Raízes busca despertar a consciência ecológica da comunidade acadêmica e ensinar técnicas de gestão de projetos, contribuindo para a redução do lixo descartado e a promoção da educação ambiental. Segundo o professor, a ampliação da biodiversidade também tem impacto direto nas plantações do entorno. “Ao preservar e fortalecer a vegetação no campus, cria-se um ambiente que atrai polinizadores, beneficiando diretamente as áreas agrícolas próximas”, explica.
No período letivo 2025.1, uma turma realizou um levantamento sobre os organismos presentes no CCA, identificando espécies como aranhas e escorpiões. A partir dessa análise, os estudantes sugeriram alternativas para incrementar a biodiversidade, comparando áreas degradadas e conservadas. Agora, no período 2025.2, duas turmas dão continuidade ao trabalho de forma prática: uma será responsável pela regeneração de uma área do campus, com plantio de mudas, cultivo de espécies vegetais estratégicas e instalação de abrigos artificiais; a outra cuidará da compostagem, produzindo húmus para adubação do solo.
A vivência tem marcado a trajetória acadêmica dos participantes. Para Sofia Lacerda Peixoto, estudante do 4º período de Ciências Biológicas, o projeto vai além da sala de aula. “Participar do De Volta às Raízes é muito importante porque nos dá a chance de aprender na prática sobre convivência e responsabilidade no cuidado. Além disso, desperta em nós uma consciência maior sobre sustentabilidade e mostra que pequenas atitudes, como montar uma composteira, podem fazer diferença para o meio ambiente”, afirma a discente.
Sofia conta que a experiência também a fez repensar hábitos cotidianos: “Aquilo que a gente chama de ‘lixo’ pode, na verdade, se transformar em algo útil, ajudando no cuidado com o solo. Essa experiência me fez olhar de outra forma para o que consumo, descarto e para as pequenas coisas da vida, além de reforçar a importância de mudar pequenos hábitos para viver de maneira mais sustentável”.
O estudante Weberth Oliveira Santos, do 8º período, compartilha da mesma visão. Para ele, a riqueza do projeto está no aprendizado integral. “Estar diretamente envolvido na recuperação de áreas degradadas amplia a compreensão sobre processos ecológicos, restauração de habitats e dinâmica de comunidades. Temos a oportunidade de atuar em todas as etapas, desde a discussão das ideias até o plantio de espécies escolhidas por suas interações ecológicas, como atração de polinizadores, fixação de nutrientes e retenção de água. A integração entre reflexão crítica, planejamento e ações de campo transforma um ambiente degradado em um espaço vivo e funcional”, ressalta.
Outro diferencial do De Volta às Raízes é o resgate de práticas ancestrais. Ferreira destaca que muitas soluções hoje chamadas de “baseadas na natureza” já eram aplicadas por povos originários das Américas e africanos. “Não estamos inventando nada novo. Estamos revisitando práticas que sempre deram certo e que respeitam os ciclos naturais. A natureza é autossuficiente e não precisa de nós. Se não repensarmos nossas ações, quem deixa de existir somos nós, não ela”, finaliza.
O projeto “De Volta às Raízes” conta com o apoio da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae), da Coordenação do Restaurante Universitário (RU), da Coordenação do CCA e do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD) da Univasf.