Por Guilherme Magalhães
No coração do Nordeste, uma obra de aço e concreto promete mudar o destino de milhares de pessoas: a Ferrovia Transnordestina. Mais do que um projeto de infraestrutura, ela é um corredor estratégico de desenvolvimento que poderá impulsionar economias locais, reduzir custos logísticos e abrir novos horizontes para produtores, empreendedores e trabalhadores.
A conclusão do trecho Salgueiro–Suape, em Pernambuco, é especialmente promissora. Segundo levantamento do professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e consultor logístico, Guilherme Magalhães, a economia de Salgueiro pode triplicar com a operação plena desse ramal. O estudo, apresentado no seminário Conexões Transnordestina – A Ferrovia que Moverá Pernambuco, revela que a cidade pode receber um porto seco — centro alfandegário para armazenamento e distribuição de mercadorias — e um terminal terrestre de combustíveis com capacidade para movimentar 1,8 milhão de toneladas por ano. O transporte ferroviário reduziria o custo de distribuição e aumentaria a competitividade regional.
A importância estratégica de Salgueiro não é novidade para especialistas. O professor Maurício Pina, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), destaca que a cidade é um dos principais entroncamentos rodoviários do país, cortada pela BR-232 e pela BR-116. Com a Transnordestina, passará também a ser um entroncamento ferroviário, conectando-se a quatro ramais: Salgueiro–Suape, Salgueiro–Petrolina, Salgueiro–Missão Velha (CE) e Salgueiro–Eliseu Martins (PI). Essa localização privilegiada transforma o município em ponto logístico central do Nordeste, com potencial de integração a praticamente todas as regiões.
Os ganhos econômicos vão além de números: significam mais empregos diretos e indiretos, fortalecimento da agroindústria, ampliação do escoamento da produção agrícola e industrial e acesso facilitado a mercados nacionais e internacionais. Menos custos logísticos significam mais alimentos chegando às mesas das famílias, preços mais
competitivos e maior dinamismo econômico para cidades como Serra Talhada, Araripina e Petrolina.
Mas para que essa promessa se concretize, é necessário superar desafios. O trecho Salgueiro–Suape está com obras paralisadas, enquanto outros segmentos avançam. É urgente retomar o ritmo, garantir um cronograma claro, estabelecer metas mensuráveis e adotar mecanismos de fiscalização e transparência. Audiências públicas periódicas e indicadores de acompanhamento — como volumes transportados, custos logísticos e impacto ambiental — devem ser parte da governança do projeto.
A Transnordestina não pode ser apenas um símbolo de promessas adiadas. Ela precisa ser entregue com responsabilidade e visão estratégica, como obra estruturante capaz de integrar o interior ao litoral, estimular cadeias produtivas e transformar o potencial do Nordeste em realidade palpável.
O Sertão e todo o Nordeste têm pressa. E cada dia de atraso é um dia a mais longe de um futuro mais próspero, conectado e competitivo.
Autor: Professor da Upe-Salgueiro Guilherme Magalhaes - Consultor Logistico
Conselheiro do Crape (Conselho regional de Administraçao de Pernambuco)
Membro da Anelog (Associação Nordestina de Logistica)