ENTREVISTA: Dom Magnus Henrique fala sobre a semana santa

Nesta segunda-feira (29), nosso convidado para entrevista é o Bispo Diocesano de Salgueiro, Dom Magnus Henrique Lopes, OFMcap. O objetivo é trazer uma mensagem de esperança e tirar algumas dúvidas sobre a semana santa que começou nesse domingo de ramos.

Blog - Dom Magnus, obrigado por atender nossa entrevista. O que podemos fazer para melhor viver a semana santa?

Dom Magnus - A semana santa é sempre o ponto alto de toda a Liturgia anual da Igreja. É preciso que lembremos que a preparação anual para a Páscoa passa pela Quaresma e chega ao ápice na Semana Santa, e tem como objetivo preparar a Igreja para a Páscoa definitiva na Eternidade com Deus. Creio que para viver bem a semana santa se faz necessário uma pausa interior, redescobrir o mistério da Cruz de Cristo, da sua Paixão, Morte e Ressurreição já de modo prévio, e ao mesmo tempo rezar este mistério e entender que também nós caminhamos para Jerusalém, não a cidade temporal, mas a Eterna, garantida pelo que Cristo viveu na sua semana santa terrena.

Blog - Como viver profundamente a semana santa durante a quarentena?

Dom Magnus - O período de isolamento nos colocou dentro de um caminho de resiliência. Somos provocados a mudar a nossa forma de vida eclesial, mesmo cientes de que este não é o caminho ordinário, a prática comum da Igreja, pois, a comunidade reunida é também expressão da Páscoa de Cristo. Contudo, poderemos rememorar as primeiras comunidades cristãs; elas, não só em meio a enfermidades, mas principalmente da perseguição, descobriram que Cristo na sua Eterna Páscoa estava também nas suas casas. A Igreja era compreendida logo no início como casa da Eucaristia e da Palavra, pois, as celebrações se realizavam em família; isso já remontando ao AT que juntava os empregados, filhos, ajudantes e todos os que circundavam o convívio familiar para fazer memória da salvação de Deus para com os seus antepassados. Hoje, a nossa profundidade pascal passará pela capacidade de celebrarmos as nossas cruzes e glórias entre os nossos, trazendo Cristo para o seio de nossas dores, e lembrando que a Páscoa de Cristo parece acontecer novamente nos nossos enfermos, equipes de saúde e todos os que se dedicam a vida. Digo “parece” porque uma única páscoa salvífica já aconteceu por nós, a de Cristo. Todas as dores humanas participam das dores da semana santa de Cristo e são por ele elevadas a um grau de vida e ressurreição.

Blog - Durante a semana santa qual é caminhada que somos chamados? Quais são as celebrações principais?

Dom Magnus - Antes de tudo o caminho da oração. Se entendemos que a oração é o respiro da Igreja, a força vital para que a mesma se mantenha animada a viver no mundo dilacerado nesta pandemia, compreenderemos assim o mistério da comunhão dos santos que professamos no credo a cada domingo, ou seja, estou unido aos santos e aos falecidos em uma única celebração eterna, que acontece diante de nós e por nós. Logo, a minha oração é fortificada na oração dos santos e assim tenho certeza de não estar sozinho, e que minha caminhada é a de tantos irmãos e irmãs que sentem o peso da solidão e deste distanciamento.

As celebrações principais desta semana se iniciam já neste domingo, o chamado domingo de Ramos ou domingo da Paixão do Senhor. Relembramos aqui a entrada de Jesus em Jerusalém como o verdadeiro Rei de tudo e de todos, não um reinado deste mundo, mas um reinado que vem para superar os nossos reinados temporais, apontando-nos, é claro, para o reinado eterno no coração de Deus Pai. Nesta entrada jesus é aclamado publicamente como o Messias esperado, ou seja, chegou a hora da sua entrega pelo povo e em favor do povo a Ele confiado. O drama da paixão começa a ser compartilhado com os fiéis que por Ele foram alcançados ao longo da sua vida pública. Depois, vivemos a segunda, terça e quarta como dias de memória acerca dos anúncios da Paixão, viemos com práticas de piedade popular a fim de uma preparação mais intensa para o grande tríduo pascal.

No tríduo pascal que se começa na Quinta-feira Santa, celebra-se pela manhã na Igreja Catedral a Instituição do Sacerdócio Ministerial com Rito de benção dos Santos Óleos e consagração do Crisma. Por razões pastorais, cada Bispo Diocesano pode transferir esta celebração para data próxima a mesma. No nosso caso, costumamos celebrar na terça feira santa para melhor unidade do Clero em torno do seu Bispo. Esta Missa manifesta a força da manifestação da Igreja, ou seja, visivelmente ela vive dos sacramentos e em função deles, assim, cada padre com os óleos dos Sacramentos e em comunhão com seu Bispo, dá continuidade a vida da Igreja ao longo do ano e cotidianamente em nome de seu Bispo, Pai, Pastor e irmão, fazem continuar a Igreja na vida de suas comunidades paroquiais.

Na noite de Quinta-Santa, rememoramos a Instituição da Eucaristia, a novidade da Nova Aliança da qual fazemos parte. Um Sacrifício antecipado e sinalizado para sempre e que chega até nós: Cristo se oferece em nossos altares sob o pão e o vinho. Ali inicia a Missão da Igreja: Fazer Cristo presente em sua memória para todo o sempre. É interessante também sabermos que esta é a única Missa do mundo; uma vez por todas Cristo a celebrou e nós a perpetuamos por seu pedido e ordem. Os 12 não foram os mais felizes; eu e você voltamos no tempo e no hoje de nossa história celebramos juntos a mesma Missa de Cristo; por isso é uma noite santa, e de alegria, e que ao mesmo tempo já nos lança para a Sexta da Paixão. Algo que devemos lembrar também é que o Tríduo Pascal deve ser vivido como uma única Missa a se encerrar no dia de Páscoa. Voltando para a Sexta da Paixão, ali rememoramos o cumprimento e a entrega total de Cristo, o Servo e Filho de Deus. Neste dia celebramos apenas um ato Litúrgico, não há Missa, em memória do jejum pascal, do luto, da ausência do agradável e do belo, da consumação e da esperança pela ressurreição. Não apenas rememoramos a Paixão, nós a vivemos junto com Cristo como se fosse a primeira vez, a única vez por todas a ocorrer diante de nossos olhos, a nos abraçar em nosso tempo presente. O silencio da noite de sexta e do dia de sábado nos introduzem no sepulcro com Cristo. É tudo consumado, mas consumado na esperança, pois, Deus Pai, jamais deixaria que a sentença de morte triunfasse sobre seu Filho amado. Na noite de sábado Santo, celebramos a Páscoa com a Vigília; esta vigília tem caráter de memória pela história da espera e da salvação. O povo esperou por tempos esta salvação e agora diante de nossos olhos ela acontece, é real, tem um rosto, um nome, e nos alimenta. Não é mais uma ideia, mas Cristo é nossa Páscoa. Não mais um evento, mas um decreto de vida na morte do Filho a abraçar também a nossa realidade de morte temporal e eterna. A páscoa de Cristo é porém a páscoa da Igreja, a nossa páscoa. A vida é que tem palavra final. Isso nos dá esperança até neste tempo de pandemia. Mesmo cercados de enfermidades e mortes, a tragédia não tem palavra final sobre o Cristão, mas é a vida eterna que dita nosso caminhar. Este é um pouco o resumo do que ocorre em especial esta semana para nós cristãos católicos.

 

Blog - Dom Magnus, muitas pessoas têm dúvidas sobre a sexta-feira santa. Por exemplo: Por que não tem missa nesse dia?

Dom Magnus - Como disse anteriormente. A ausência da Missa ritual neste dia nos rememora a passagem da morte a afetar Cristo, e a Igreja sua esposa, em luto, se abstém de celebrar o rito da Missa neste dia. Mas se olharmos pelo viés de que a Páscoa é celebrada em três dias e não só no domingo, veremos que na Quinta com a instituição da Eucaristia, o Ato da Paixão na sexta e a Vigília Pascal estendida com o Domingo de Páscoa, constitui para a Igreja como a Grande Missa do ano, ou seja, a Missa Pascal celebrada em um tríduo rico em detalhes, sinais, ritos e orações. A beleza aí se esconde. Por isso que nos alimentamos da Eucaristia na sexta-feira com a reserva Eucarística da Quinta Santa. Mesmo em um aparente luto a esperança vem até nós.

Blog - Muitas vezes vivemos no mundo buscando glórias, vitórias e troféus. No entanto, esquecemos da cruz. O que a Cruz significa na nossa caminhada?

Dom Magnus - Quando fomos batizados, o primeiro sinal que foi feito em nós naquele dia foi o da Cruz, e posteriormente quem nos batizou disse: Lembrai-vos deste vosso filho que muitas vezes irá enfrentar as adversidades do mal neste mundo. A cruz é para nós sinal de pertença. Fomos marcados com o sinal da fé para sermos distintos de todos os povos; não melhores, mas distintos. A cruz é para nós o distintivo de um povo que tem memória, que é capaz de resiliência, que sofre, mas que pena além, pois esperança é visível na Cruz.  A cruz até assusta, mas também relembra: sou servo, seguidor, logo, não deveria esperar nada de diferente da vida de Deus no mundo. Aí está a beleza da Cruz, ela é envolvimento participativo, sinal de que Deus nunca foi apático as dores da nossa história. A cruz me relembra que eu sou amado, acolhido, aceito, abraçado, elevado, mas desde que permitamos que as nossas cruzes se unam a dele, senão, será apenas um sofrimento vão e cansativo, sem sentido e sem frutos.

Blog - Agradeço pela entrevista e pela oportunidade de falaramos sobre esse tema importante. Foi um momento oportuno para tirar as dúvidas dos nossos leitores. Dom Magnus, para encerrarmos, qual é sua mensagem para essa semana santa mais uma vez em tempos de pandemia.

Dom Magnus - A esperança nunca confundiu os cristãos. Por mais que ela se nos mostre lenta ou distante, a nossa Páscoa é Cristo, nossa Semana Santa é Cristo, nossa saúde é Cristo. Mesmo que nos falte tudo, que nunca nos falte Cristo. Não esqueçamos que somos todos irmãos nele, que fomos redimidos por Ele e que nossa dor não lhe é distante. Cristo permanece sofrendo conosco e nos espera com Vida plena, se não aqui, no abraço Eterno sim. O cristão não desiste pois o nosso Cristo permanece em luta por nossa saúde. Mesmo que o caos queira ter palavra final, que a morte queira bater nossa porta; se tivermos Cristo, tudo isso não passará de visita temporal, pois o Eterno vigia a nosso favor.

 

A entrevista foi concedida no dia 25 de Março de 2021 - Solenidade da anunciação do senhor.

Foto: Rickson Bruno

Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 32 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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